segunda-feira, outubro 15, 2007

ESCASSEZ DE FOSFATO PARA A AGRICULTURA

As reservas mundiais de fósforo, indispensável para os cultivos, podem se esgotar ainda neste século.

O escasso fosfato, um fertilizante indispensável para a agricultura, preocupa os especialistas em solo, diante dos vorazes planos do Brasil e de muitos outros países na corrida pelos biocombustíveis. Sal do ácido fosfórico, o fosfato é um composto químico formado por fósforo e oxigênio. O fósforo é um mineral “finito e insubstituível”, cujas reservas conhecidas e de exploração economicamente viável podem se esgotar em prazo de cem anos, se for mantido o ritmo atual de crescimento do seu consumo mundial, alerta do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (USP).

“Sem fósforo não haverá agricultura, nem biocombustível, nem vida. A humanidade acabará”. Outros minerais, como nitrogênio, potássio, cobalto, magnésio e molibdênio, também são indispensáveis, mas têm fontes menos limitadas e, fora os dois primeiros, são de baixo consumo. “O fosfato corre o risco de esgotar-se antes do petróleo”. Uma forte expansão da agricultura com fins energéticos aceleraria esse esgotamento, o que é um dado a ser considerado “em uma visão estratégica”.

Denominar como “renováveis” os biocombustiveis – etanol e biodiesel destilados da cana-de-açúcar, do milho e de diversas oleaginosas – não deve nos fazer ignorar que alguns fatores de produção agrícola, como solo e nutrientes minerais, não são infinitos. A Austrália não se interessa em incentivar a agroenergia por causa de suas limitações hídricas, acrescentou.

As técnicas agroecológicas reduzem muito a perda de fertilizantes, promovendo a recuperação do que resta nos dejetos vegetais. Além disso, podem-se priorizar espécies e variedades mais adaptáveis a solos pobres em fósforo. Melhorando a terra ácida com a cal “pode-se usar um terço do fosfato que empregamos hoje”.

A modificação genética para desenvolver variedades que requerem menos fertilizantes é outro caminho que já se percorre. “Nenhuma mágica da engenharia genética produzirá uma espécie que não precise de fosfato”, mas chegará a uma que o consuma em menor quantidade. O problema no Brasil é que não são usadas tecnologias disponíveis para utilizar melhor o fertilizante, como análise de solo e de plantas, e acaba-se aplicando mais do que o necessário, desperdiçando um bem que “é impossível fazer durar indefinidamente”, lamentou o especialista.

O excesso de fosfato na plantação faz com que apenas 30% sejam absorvidos pelas plantas e reduz a produtividade. A maior parte fica no solo. Outra parte, com a erosão, contamina águas e faz proliferar vegetações aquáticas, prejudiciais para a saúde humana. A absorção de 30% ocorre na primeira semeadura, mas as seguintes podem aproveitar boa parte do fosfato retido no solo. Porém, por desconhecimento, os agricultores aplicam fosfato a cada ano, gerando desperdício e danos ao cultivo.

A semeadura direta, que deixa na terra os resíduos da colheita, fertilizando e retendo umidade no solo, é outra forma de reaproveitar o fósforo. Reciclar lixo e esgoto para recuperar o fosfato é outra medida fundamental para prolongar as reservas existentes. Nos dejetos se perde muitos nutrientes, inclusive porque uma pessoa adulta não precisa da mesma quantidade que uma criança. Outra complicação mencionada é a concentração das jazidas nos países do norte da África, especialmente no Marrocos, que possui cerca de 42% das reservas mundiais, incluindo o Saara Ocidental, um território que luta por sua independência. A China, com 26%, e os Estados Unidos, com 8%, são outros privilegiados, mas também consomem muito e não podem exportar tanto quanto o Marrocos.

Se os países árabes perderem a força que exercem no mercado do petróleo, a terão no do fosfato, que também ficará escasso e caro, prevê o especialista. O Brasil, com apenas 0,4% das reservas mundiais, depende das importações. Seus maiores fornecedores são Estados Unidos, Rússia e Marrocos.

E no Brasil temos de quebrar as fronteiras da produção e um extremado uso de fósforo faz com que seja um empecilho para a produção de energias naturais – vindas da agricultura. Lides do homem moderno, que tem de se adaptar até final deste século. O patrimônio fosfático do Brasil está distribuído nos Estados produtores de Minas Gerais com 73,8%, Goiás com 8,3% e São Paulo com 7,3%, que juntos participam com 89,4% das reservas totais do país, seguido dos Estados de Santa Catarina, Ceará, Pernambuco, Bahia e Paraíba, com os 10,6% restantes.

Bruno Calil Fonseca – é advogado e produtor rural em Itaberaí-GO.

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